Existem crianças que logo que você olha, tem certeza que vai dar trabalho - e South Park é um desenho cheio delas. A obra de Matt Stone e Trey Parker sempre vai na contra-mão do instrutivo, do politicamente correto, do imaginável, e principalmente, das boas maneiras.
O que aconteceria, então, se pegassem um gênero que sempre presa por lições de vida e histórias épocas sobre a salvação do mundo, como um RPG, e injetassem nele piadas mordazes e uma boa dose de descontrução do gênero? A resposta é: uma surpresa ótima.
Praticamente tudo o que você viu em 17 temporadas de South Park está em The Stick of Truth, seja no enredo escatológico, cheio de piadas sujas e com participações de "estrelas" como o político americano Al Gore, ou mesmo itens quase inúteis, mas que te lembram "daquele" episódio - quem se lembra do boneco inflávio de Antonio Banderas?
E para garantir que ninguém perca alguma das piadas, o game vem com legendas em português e mantém a excelente e icônica dublagem original: quase todos os personagens da série são dublados pelos dois criadores, como manda o figurino.
Em Stick of the Truth você é o novo garoto que chegou à cidade e logo de cara faz amizade com a pior pessoa possível de lá: Eric Cartman. O jogador então entra em uma brincadeira medieval de guerreiros contra elfos negros, podendo escolher entre ser um guerreiro, um ladrão, mago ou um judeu (?!) - que aqui é um personagem especializado em cura e suporte.
A história começa com esse tom Dungeons & Dragons, mas você vai acabar tendo que resolver a questão dos alienígenas inserindo sondas anais em inocentes, ajudar Al Gore contra o homem-urso-porco e a encontrar diversos brinquedos eróticos perdidos pela cidade. Sim, é isso mesmo que você está pensando e não precisa perguntar de novo.
O sistema de combate funciona em turnos, mas você pode pressionar os botões com o timing certo para causar mais dano aos oponentes ou se proteger dos ataques deles. Cada um dos personagens que o ajudam têm golpes especiais, e você pode conseguir técnicas ainda melhores ao completar as side-quests, podendo contar com a ajuda do chinês dono do “City-Wok” e até de Jesus Cristo.
Os conceitos gerais do game remontam aos RPG mais clássicos de videogame, e aí não há novidade. Mas Stick of Truth funciona porque mistura perfeitamente a experiência de jogar e de "ouvir" a história. Nos Final Fantasy da era PlayStation 1 - e até em alguns dos mais recentes - controlar o game e assistir às animações em computação gráfica são coisas completamente diferentes.
South Park acaba com esse problema, dadas as devidas proporções. A transição do que é "desenho" para o que é "game" praticamente não existe - logo que a história começa você vai soltar um "caramba, estou mesmo controlando um episódio". O que fica ainda melhor quando você percebe que aqui está concentrado tudo o que a série já produziu de melhor em toda a sua história, em termos de humor e criatividade.
Em miúdos, The Stick of Truth é um dos melhores episódios de South Park já feitos.
Sem medo de exagero, este é um RPG obrigatório para os fãs do desenho e é altamente recomendado também para qualquer pessoa que não se incomode com humor negro da série. Mesmo que você seja avesso a RPG, acredite: tanta bobagem bem colocada vai fazer você repensar a sua vida.
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